O Rio e o Homem

O ser humano causou e causa incerteza. Tem a vida cercada de dúvidas e, por muitos, é tido com indefinível, insondável, incógnita. Um ser completo para alguns; imperfeito para outros. Complexo para todos os que se aventuram ou arriscam estudá-lo e/ou entendê-lo.

Encontram-se definições na religião, na filosofia, sociologia, e na política. É comparado a uma flor, a um rochedo, um sol, a uma besta de carga, uma anta, a uma águia, ou a uma porta, entre outros exemplos. Os conceitos surgem à medida e proporção que alguém ou uma idéia conseguem descrevê-lo. Comparações e metáforas são criadas por escritores em suas obras. Pesquisas e experiências são socializadas em seminários, conferências e congressos de psicologia e psiquiatria. A antropologia estuda, compara e analisa o complexo ser humano.

Não há na natureza coisa mais semelhante à vida humana do que a vida de um rio. Ambos – o rio e o homem – nascem, crescem, desaparecem . . .

O homem nasce débil e fraco, cresce, robustece o corpo, no qual, a cada milésimo de segundo, se opera a transformação maravilhosa das moléculas, a multiplicação das células, a renovação do sangue, das fibras, dos músculos.

O rio nasce como um tênue fio d’água, recebe o auxílio de outros rios afluentes, avoluma-se; passa a ser a caudal majestosa que a corrente contínua renova e reconstitui a cada segundo.

O homem, iluminado pela luz divina do ideal, rompe todos os grilhões, arrasa todas as barreiras, transpõe obstáculos e evangeliza a beleza, a verdade, a justiça; mas, alucinado pelo delírio das paixões, transforma-se em poço de egoísmo, num animal carniceiro e feroz . . .

Também o rio, estrangulado pela rudeza dos rochedos, na angústia suprema de abrir caminho para diante, despenha suas água na imponência das cascatas, corrói e despedaça os penhascos até espraiar-se e deslizar serena e docemente, transformando-se em agente da civilização, em condutor do progresso, em arauto da fraternidade humana.

E, por fim cumprida a sua missão na superfície do planeta, desaparecem: o homem mergulha no seio da eternidade e o rio mergulha no seio do oceano …

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