Nas últimas décadas, a palavra, idéia e prática defendida pelos meios empresariais é a terceirização. Terceiriza-se a produção, terceiriza-se a mão-de-obra para escapar dos encargos sociais da folha de pagamento, terceiriza-se o serviço de segurança e vigilância, terceiriza-se o serviço de limpeza. Terceiriza-se para lucrar mais. Terceiriza-se para evitar o estresse de administrar e resolver problemas. Em resumo: terceiriza-se a responsabilidade.
Com poucos meses, as crianças vão para creches porque os pais vão trabalhar. Inicia-se a “formação de pequenos tiranos”, apesar de se divulgar e ressaltar que há atividades de socialização. São atendidos – geralmente muito bem – em suas necessidades físicas, mas e a educação, a transmissão de valores divergem educadores e pedagogos. A escolinha e as escolas são vistas como responsáveis pela educação pelas famílias que dão aos filhos uma autonomia longe da idade e maturidade para administrar, nem responder pelos atos de violência e comportamento de risco.
Aliás, a escola tornou-se o espaço para resolver todos os problemas da humanidade: meio-ambiente, trânsito, orientação sexual, nutrição, combate ao uso de drogas, violência, racismo, preconceitos de todas as espécies, ética, pluralidade cultural, trabalho e consumo, higiene bucal … Seguidamente empresas, deputados, vereadores, entre outros, elaboram projetos e leis delegando à escola a tarefa de resolver os problemas. É hipocrisia pura, doce ilusão. Pobres crianças, adolescentes e jovens que vivem numa sociedade em que os responsáveis ( pais e autoridades ) não fazem a sua parte. Não pode sobrar tempo para construir conhecimento se os educandos e educadores estiverem num ambiente em que as regras básicas de convivência e respeito não são exigidas. A escola pode muito, todavia não pode tudo. Os educandários recebem os filhos da sociedade. Assim, cada escola retrata a comunidade em que está inserida.
Na vida social (festas, encontros em praças, viagens) há comportamento inadequado. Donos de bares e promotores de festas contratam seguranças para não assumirem as regras de comportamento, a punição e afastamento dos inconvenientes. “Não querem se queimar”. Muitas pessoas fazem de contam que não viram e, se viram, não denunciam os infratores, não registram as ocorrências, não prestam testemunho com medo das represálias.
Até mesmo os órgãos de segurança pública causam incerteza pela falta de equipamentos, meios de locomoção, efetivo insuficiente. Os serviços de vigilância particular são adotados. As milícias se formam para “manter a ordem e fazer justiça.”
Os motoristas infratores – velocidade, direção perigosa, ingestão de álcool, desrespeito às leis – culpam as estradas e o governo pelos acidentes.
Muitos candidatos, em campanha eleitoral, fazem promessas absurdas e fomentam a multiplicação de atitudes em que os outros devem fazer aquilo que cabe a cada cidadão fazer.
De quem é a responsabilidade? Dos outros! Em toda parte encontram-se pessoas que esperam que os outros resolvam problemas pessoais e coletivos.