Em 2001, o professor de antropologia Andrew Oitke publicou um livro polêmico entitulado Mental Obesity com o qual revolucionou pensamentos em educação, jornalismo e relações sociais em geral, descrevendo o pior problema da sociedade moderna: obesidade metal.
Há poucas décadas, tomamos consciência do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação sem regras. Precisamos, agora, refletir sobre os abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão sérios quanto a barriga proeminente, os pneuzinhos, a celulite, medidas fora do padrão.
Segundo o autor, “ a sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros deste fast food intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados profissionais da informação.
Os telejornais e telenovelas são os hamburguers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil os donuts da imaginação.
O problema central está na família e na escola. Qualquer pai responsável sabe que os filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que aperfeiçoam e estimulam a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, enfatizam a desagregação familiar, o homossexualismo, permissividade e, não raro, a promiscuidade.
Com uma alimentação intelectual tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais viverão uma vida saudável.”
No capítulo “Os abutres”, afirma que “o jornalista alimenta-se, hoje, de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular. Só a parte podre ou distorcida da realidade é que chega aos jornais. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi e o que fez. Dizem que a capela Sistina tem um teto, mas ninguém suspeita para que serve. Conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto. Falam mal de Saddam e elogiam Mandela, mas ninguém questiona o que foram obrigados a fazer.”
Diante disso, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estão em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizada e o folclore virou “mico.”
No entanto, floresce a pornografia, o cabotinismo (elogiar-se a si mesmo), a imitação, a sensabedoria ( sem sabor) e o egoísmo.
Não é uma era em decadência, nem a idade das trevas, nem o fim de uma civilização, como poderíamos pensar. Trata de uma questão de obesidade que vem sendo introduzida no espírito e na mente humana. Estamos adiposos no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos.
Não precisamos de reformas, desenvolvimento, progresso. Precisamos, sobretudo, de dieta mental.
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