Pardinho: rio até quando?

Pardinho: rio até quando? Esta é uma interrogação com resposta previsível para aqueles que acompanham atentos a sina do Rio, especialmente, a parte que banha o Município de Vera Cruz, Vila Progresso e localidades próximas.

No ano de 1965 ou 1966, não lembro exatamente, os alunos da Escola Evangélica Luterana Trindade contaram ao Professor Edgar Sander o que estava acontecendo às margens do rio. Durante um período de estiagem, algumas pessoas ilustres, plantadores de arroz e proprietários de terra, passavam redes de arrastão nos poços para retirada de peixes – e como havia peixes – impossíveis de serem pescados em épocas de chuva regular. Até aqui parecia tudo normal. O triste eram as sobras. Diziam estes senhores que só comiam peixes com peso superior a um quilo e deixavam nas margens todos aqueles com peso inferior, sem preocupação de devolvê-los ao rio. Os vizinhos recolhiam alguns e levavam para a gurizada em casa. Os urubus faziam a faxina final.

O Professor Sander conhecia o rio e as pessoas que faziam tal depredação. Não falou mal de nenhum morador, apenas alertou os pequenos sobre a importância dos cursos d’água e disse uma frase que nem todos sabiam avaliar naquela época. “Se continuarem fazendo isto, em 50 anos, o rio será apenas uma grande valeta cheia de lodo.”

No decorrer de 40 anos, o rio experimentou a fase do abandono de suas margens, gado em campos que não pouparam a mata ciliar, plantação de arroz até a margem, retirada de árvores que entulhavam o rio – operação considerada salvadora pelas pessoas que podiam ficar com a lenha – discussão sobre o reflorestamento das margens. Pessoas que se dispunham a fazer cerca de proteção foram ridicularizadas. O esgoto e o lixo foram direcionados para lá. Pescadores que acampam em suas margem abrem clareiras, fazem fogo e deixam sujeira. Banhados foram drenados e transformados em área produtiva.

Atualmente, há projetos para proteção e recuperação das bacias do Pardo e Pardinho. Quanto custará recuperar o rio? Hoje, o volume de água deste importante curso d’água chama a atenção. Após as chuvas, a enchente surge rápida, mas o nível da água baixa rapidamente

Às suas margens desenvolvem-se lavouras de arroz que são admiradas pela alta produtividade e tecnologia empregada. A grande quantidade de adubos, fertilizantes e agrotóxicos ajudam para acentuar a agonia do rio e dos peixes que ainda conseguem sobreviver.

Será que dentro de alguns anos teremos um rio ou uma grande valeta cheia de lodo? O que precisaria ser feito para reverter o preocupante quadro de degradação.

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