55 anos

O Município este ano festeja 55 anos. Tradicionalmente, a gincana inicia as comemorações.  Uma vasta e merecida programação é elaborada para os vera-cruzenses comemorarem os 55 anos de emancipação política e administrativa. 7 de junho é de festa.

Ao compararmos os 55 anos de Vera Cruz com   Santa Cruz do Sul (município mãe) de 1877 e com Rio Pardo (município avó) de 1809 e seus mais de 200 anos de história de criação, o aniversariante   é considerado jovem.

Vera Cruz, no entanto, tem a sua história. Os primeiros ocupantes – antes da era cristã – se fizeram presentes nestes confins vagueando em busca de alimento através da caça, pesca e coleta. Por volta do início da era cristã chegam os guaranis que introduzem as primeiras roças neste “solo rico e fecundo,” possibilitando o alimento para suas aldeias. Os jesuítas passaram por esta “terra abençoada” para catequizar os aborígines. Da história pré-colonial ainda restam vestígios em sítios arqueológicos ocupados por indígenas no passado e preservados como patrimônio arqueológico conforme previsto na legislação brasileira

Em seguida vieram os portugueses e a divisão das sesmarias contempla Dona Josefa Maria Branca Guedes Pinto – ao norte do atual Município (viúva duas vezes) – recebe a Fazenda. Ao sul – divisa com o Município de Rio Pardo –  Pedro Inácio Borges recebe o seu latifúndio, em 1788, da Rainha Maria I, mãe de D. João VI. Com os lusos vieram os escravos.

Já em meados do século XIX foi realizada a demarcação dos lotes coloniais para a vinda dos imigrantes alemães. Para estes, os negros também prestavam serviço, como “escravos de ganho”, pois sua mão de obra era alugada do seu dono de descendência portuguesa. De toda esta miscigenação cultural surge o povo que habita esta região.  Referenciamos o tradicionalismo gaúcho, cultivamos a “Revolução Farroupilha”.     Destacamos a nossa origem germânica   no verso do Hino – “na terra do bravo imigrante” – e através das atividades culturais realizadas tradicionalmente nos encontros de sociedades e cavalheiros, nas danças, culinária, no cultivo das lavouras, entre outras.

A história da formação do Município de Vera Cruz foi alvo de pesquisas e publicada em duas obras. O livro “20 anos de Vera Cruz” apresenta as colônias de Dona Josefa (1854), Linha Andréas (1853) e Ferraz (1859). O maior contingente populacional se encontra na Linha Vila Teresa (1858) que em 1866 tem suas quadras demarcadas e em 1889 o povoado é elevado à categoria de Freguesia, segundo distrito de Santa Cruz do Sul. A emancipação se concretiza   em 1959.

Livro “Vera Cruz: Tempo, terra e gente” (2009) reúne todas as pesquisas posteriores e dá aos vera-cruzenses uma compreensão e visão da” história que se construiu no tempo por gente disposta a desbravar uma terra promissora”

Os vera-cruzenses possuem uma imensa história por pesquisar, desvendar, contar e escrever.  Valorizamos a nossa cultura e história no discurso e ou nas ações do dia-a-dia? Para escrever a historia    o pesquisador apaixonado pelos fatos do passado e comprometido com a tarefa de publicá-los necessita de fontes históricas e documentos para a pesquisa que comprovem as ações da sociedade em preservar a sua cultura seja ela material ou imaterial.

O Município se esmera na elaboração de um roteiro turístico.  O que quer oferecer de concreto da sua história para o turista ver? Somente as belezas naturais, ou também o estilo arquitetônico germânico das residências? O que teremos para mostrar? Os bens tombados a Igreja Imaculada Conceição, o tumulo do primeiro imigrante   a futura casa de cultura (que desejamos esteja em restauro, depois de muito esforço, no próximo aniversário do Município)?   E os vestígios coloniais, deixados pelos lusos, negros e, principalmente, imigrantes germânicos quem deve preservar? O que ainda resta das primeiras casas de Vila Teresa? As fotos no museu e no arquivo histórico? Será que serão registros deixados somente na memória dos avós das futuras gerações?

Ao  comemorar pouco mais de meio século de emancipação e possuindo   milênios de história cultural deveríamos oferecer as belezas naturais para as próximas  gerações  vera-cruzenses,  receber no futuro – pelo túnel verde que se destaca na entrada da cidade –  muitos turistas  que desejarão ouvir e sentir  a história deste povo ao   visitar o museu,  seus casarios,  comprar artesanato, degustar a culinária local se descontrair com as danças e festas típicas que são registros históricos e culturais dos vera-cruzenses.

Parabéns munícipes vera-cruzenses! Tomara que todos possamos olhar com carinho para o passado, preservar a historia no presente e projetá-la para um futuro com prosperidade. Não esqueçamos as “Raízes de um Povo Feliz.”

Marina Amanda Barth

Historiadora e Arqueóloga

Assistente de Pesquisa Arqueológicas Cepa/Unisc
Mestre em História – Unisinos

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