A renúncia sempre vem acompanhada de dúvidas e indagações. Renunciar é não querer. Parece estranho quando um funcionário recusa uma proposta de promoção na empresa. Causa espanto quanto um cidadão laureado devolve um diploma ou uma medalha de honra ao mérito. Deixa dúvidas aquele que rejeita a companhia de algum figurão da sociedade. Pode ser malvisto o atleta que desiste de uma grande competição. Pode ser considerado excêntrico o artista que despreza a promoção social e o rótulo de celebridade.
O renunciante abre mão do cargo, função ou título. Sai da vitrine para o anonimato. Renunciatário é o que recebe o cargo ou sucede ao renunciador. Vem para o destaque com o desafio de fazer melhor.
O mundo ficou surpreso com a renúncia do Papa Bento XVI, em 2013. As indagações sobre os motivos vinham de católicos ou outras denominações religiosas, políticos, cientistas políticos, historiadores. Ouviam-se especulações sobre corrupção, lavagem de dinheiro através do banco do vaticano, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se deterioraram, pedofilia e processos de decomposição moral.
Nos últimos meses, reis e príncipes com idade avançada abdicaram do trono, passando a tarefa para os sucessores da monarquia. Rei novo para um mundo novo e diferente.
A renúncia sempre é estampada em destaque porque é um ato extremo, o último recurso quando diretores de empresas, políticos reconhecidos e respeitados são descobertos por falcatruas, desvios de dinheiros, fraudes, assassinatos, desvios de conduta para a posição que ocupam.
Em muitos lugares a renúncia precede suicídios pela vergonha ao ser descoberto. A renúncia, também, se apresenta como sinal de honestidade e ética para melhores investigações e não interferir ou intimidar os encarregados para averiguar os fatos.
Os brasileiros, em sua maioria, lamentam a renúncia do Ministro do STJ Joaquim Barbosa num momento importante da história do Brasil. O que causou o seu pedido de afastamento da Suprema Corte?
A renúncia é uma prática frequente entre políticos brasileiros. Já nem causa estranheza. Até a pergunta já nem muda muito: “o que foi desta vez?” Eleitos pelo povo, vereadores, deputados e governadores renunciam. Políticos, ministros e presidentes de autarquias – flagrados em falcatruas – renunciam para escapar de cassações ou condenações e retornar depois sem problemas. Até a renúncia disfarçada de licenciamento para não perder cargos por vereadores e deputados já é uma prática frequente.
O que poderia causar a renúncia do Presidente da Câmara de Vera Cruz e não ser notícia nos principais meios de comunicação. O que se espera do sucessor num mandato tampão? O ano de 2015 dirá.