Professores, atenção!

Os professores, alunos e escolas sempre estão em dificuldades. Sempre reclamam da falta de alguma coisa: salários injustos, prédios precários, alunos mal educados, pais relapsos, autoridades despreocupadas, sociedade conformada com um ensino de pouca qualidade…

Na realidade, os professores se meteram em uma enrascada. Há décadas, a categoria e suas lideranças vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem criada é de trabalhadores em educação coitados, desprestigiados, injustiçados, maltratados, mal pagos, desvalorizados, abandonados pela sociedade e pelos governantes. Fazem o melhor que podem com o pouco que recebem.

As greves e paralisações não deixam os pais bravos, não são descontados os dias parados, os dias são recuperados – muitas vezes – com atividades que não contemplam os conteúdos perdidos. Lutam, negociam e até brigam por horas de folga fora da escola. Ouve-se falar em direções que concordam com a permanência em casa quando deveriam estudar em grupos, planejar aulas e elaborar projetos para melhorar o aprendizado dos alunos e colocar a escola como a instituição mais importante da comunidade. A hora-atividade foi aprovada e implantada para melhorar o trabalho.

A eleição de diretores – reivindicada pelos educadores para implantar uma gestão democrática nos educandários – virou ( por culpa de muitos professores) um reduto de práticas nada democráticas, influências de políticos, uma troca de apoio para eleição, com estratégias para agradar os alunos, fragilizar a ação dos professores e a presença dos pais na escola para assumir a responsabilidade sobre a ação dos filhos.

Também, sempre, é enfatizado que os governos precisam direcionar, garantir e aplicar mínimos legais dos recursos. Muito já se avançou e 25% do orçamento federal e do município vão para a educação. Em breve, quando o Plano Nacional da Educação for aprovado, O Brasil será o único país do mundo (exceto Cuba, onde o professor recebe 28 dólares) em que se gastam 10% do PIB em educação. Os royalties do pré-sal virão para a educação.

Chegará o dia em que o piso nacional do magistério será pago e os planos de carreira implantados. Possivelmente, haverá professores (especialistas, mestres e doutores em educação) com salários acima de R$5.000,00 mensais. Certo? Certíssimo! Por que um professor especializado não pode ganhar tanto quanto um médico especialista? O médico cura doenças e tenta salvar vidas; o professor orienta o aprendizado, constrói conhecimento e prepara as futuras gerações do Brasil.

Parece que a educação só vai avançar quando houver demanda pública por melhorias e os professores começarem a melhorar seu desempenho, mostrarem competência e não aceitarem planos e ações que impedem a realização de um bom trabalho. Não concordarem com parecer “uma educação de qualidade e inclusiva”.

Estamos no Século XXI – na era do conhecimento – e a educação passou a ser uma prioridade inadiável. O dinheiro virá e poderá ser a danação da categoria. Os pais começarão a entender que somente aumento de salário não garante qualidade de ensino. Eles e a mídia, ao entrarem na sala de aula, descobrirão que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Grande número de professores falta ao trabalho, não prescreve nem corrige dever de casa, passa conteúdos de forma desleixada e fora do contexto, mal articulado entre as diferentes áreas do conhecimento.

Quando isto acontecer, não haverá a ajuda dos atuais defensores: políticos, dirigentes de ONGs e intelectuais que declaram apoio diante dos microfones e câmeras, mas dizem cobras e lagartos em conversas reservadas e não garantem força quando leis são elaboradas.

O que, então, será necessário fazer, na prática, para melhorar a qualidade do ensino e mudar a forma como o professor é visto e tratado na sociedade brasileira? Será imprescindível encarar algumas questões:
a) se os professores quiserem ser importantes na vitória, precisam assimilar o seu papel na derrota;
b) não menosprezar a ciência porque o puro “achismo” e experiência pessoal tornam o professor dispensável;
c) aceitar e encorajar a participação dos pais e da sociedade no debate educacional para as mudanças;
d) tratar o assunto salário com o cuidado para não torná-lo um discurso inconsistente ( salário maior resolve os problemas da educação).

O respeito da sociedade virá quando a categoria notar as suas próprias carências e lutar para saná-las, dando aos pais o que esperam do professor: educação de qualidade para os filhos.

Posted in Meus Textos