Nas duas últimas décadas, por exigência de órgãos internacionais ( UNESCO e BIRD entre outros), o Brasil levou as crianças às escolas. Organizaram-se seminários, conferências, encontros, jornadas pedagógicas, formação continuada com ilustres palestrantes – autoridades em educação, psicopedagogos, mestres em geral, psicólogos, sociólogos – que cobravam e recebiam polpudas quantias para exporem suas teorias e, principalmente, convencer os professores a fazerem a revolução brasileira através de livros, leituras, projetos, engajamento comunitário, cooperação social. A escola fora o local e a trincheira ideal para usar como armas todos os métodos, técnicas e instrumentos tecnológicos disponíveis para a luta ou, segundo os mais exaltados e empolgados, a guerra contra a ignorância e o analfabetismo.
Os índices de reprovação, repetência, evasão e aproveitamento foram o alvo preferido. E as causas? Bem, as causas são os problemas sociais, desajustes familiares e, especialmente, os educadores. Trabalhadores em educação foi uma nova designação criada.
E a solução? Antes de falar em solução, a exigência era reduzir drasticamente os índices de reprovação, repetição e evasão. Poucos se lembravam ou questionavam a qualidade do ensino, as condições que os educadores teriam para realizar a gigantesca tarefa ( salário digno, carreira, aperfeiçoamento profissional ) e escolas equipadas, segundo as necessidades locais.
A defesa da eliminação da reprovação veio com força. Os alunos até a 4ª série teriam aprovação automática. Muitos defenderam e estenderam esta prática até a oitava série. Afinal, quem somos nós para reprovar alguém? Quem teria coragem de tirar a chance de promoção de uma criança ou adolescente? Um discurso demagógico ganhou repercussão e espaço.
Professores de sala de aula – aqueles que realmente enfrentam as dificuldades e realizam a grande obra da inclusão e aprendizado – poucas vezes receberam o microfone para expor suas dificuldades. Geralmente a palavra ficava à disposição do público – quase sempre professores – quando os grandes mestres já expuseram suas laureadas teses e o modesto professor sente-se impotente e induzido a concordar, arregaçar as mangas e trabalhar um pouco mais além do normal.
Pressionados, todos se esforçaram para atingir a meta. Hoje comemoram-se os índices de aprovação. Municípios e autoridades recebem prêmios e são destaques na imprensa. Estamos bem, acima dos 90%, mas as avaliações nacionais – questionadas e criticadas em alguns casos – revelam que os alunos gaúchos são quase 40 em Matemática e Língua Portuguesa. Outras disciplinas têm aproveitamento inferior. O mínimo para aprovação – estabelecido em lei – é 50. Comparemos os números e algo nos dirão.
Quando estes mesmos alunos chegam ao ensino médio ou superior apresentam dificuldades que os impedem de ler, escrever e expressar-se com clareza e coerência. Recebem a classificação de analfabetos funcionais, ou seja, juntam letras, lêem frases, fazem cópias, no entanto, não entendem nem compreendem o conteúdo e as idéias apresentadas.
Há muitos problemas a serem resolvidos para elevarmos os índices de aproveitamento e formação dos nossos jovens. Se o Brasil não adotar o compromisso com a qualidade, coerência, seriedade, bom desempenho e o aprendizado, a solução de problemas pessoais e coletivos não acontecerá.