De olho no ouro

As histórias em torno da caça ao tesouro, busca por ouro enterrado – por índios, escravos ou pessoas avarentas – no fundo do quintal, perto de uma árvore, debaixo de uma pedra perto do galinheiro, são conhecidas.

Meu avô – em seu período viajante – afirmava ter visto um fogo estranho perto do tronco de uma enorme árvore quando voltava de Santa Cruz e a roda da carroça quebrara, obrigando-o a pernoitar à beira da estrada geral para Linha Sítio. Foi alvo de piada, desconfiança e chacota. Não teve coragem para procurar.

De forma diferente, um colono sonhava enriquecer depois das escavações do pessoal do Museu do Colégio Mauá – na década de 1970 – e encontrar um sítio arqueológico em sua propriedade. Consultou uma cartomante para localizar algum tesouro em suas terras. Esperta, a cigana fixou um preço para fazer uma varredura na área. Assegurou que tinha e delimitou o espaço.. O colono e mais alguns filhos puseram-se a virar a terra à pá para poderem controlar as leivas viradas e não escapar nada. Após várias semanas de duro trabalho e todo o dinheiro gasto com consultas com a cartomante, desistiu e voltou a plantar batata, feijão e milho para sustentar a família e não passar fome. Até hoje é lembrado como preguiçoso que procurou ouro, fez muita força cavando e pagou para ser enganado.

Há alguns meses, conversando e trocando informações sobre imigração no Município de Vera Cruz fui indagada se já ouvira falar de ouro ou tesouro nazistas enterrado por alemães. Nunca. Seria possível?

Até aqui, os casos viraram folclore ou nunca passaram disso. Só que, no ano de 2013, novamente, existiram caçadores de tesouro. Foram vistos sinais de fogo ou luzes se mexendo ao longo de uma cerca de potreiro. Poderia ser indicativo da existência do ouro.

Durante várias semanas, em torno das 23h, um morador de Vila Progresso percebeu que havia uma luz movimentando-se ao longo da cerca de um vizinho. A luz deslocava-se até perto do Arroio das Pedras – acendia e apagava… ora mais forte, ora mais fraca – e voltava. Este ir e vir demorava mais de meia hora.

O vizinho Frido – curioso e impressionado – comentou o fato com Candoca (amigo, autoridade, cidadão esclarecido, formado na faculdade). Contou todos os detalhes e foi convencido que poderia haver ouro enterrado já que há tantas histórias contadas. Não custava tirar a dúvida.

Na hora combinada, Candoca, o ilustre e ganancioso amigo, estava lá. Posicionaram-se na sombra de uma árvore. Não teve dúvida: às 23h, pontualmente, a luz surgia… acendia… apagava.. ia e voltava. No dia seguinte, num domingo de festa na localidade, quando os moradores participavam de um culto festivo, foram ao local para ver se havia algum sinal de queimado, chamuscado, alguma marca para iniciar a busca. Nada.

À noite, após a festa, alguns remanescentes ainda conversavam, quando os dois amigos contaram aos demais o que estava acontecendo e que precisavam se retirar para, novamente, monitorar o acontecimento. Se houvesse algum tesouro, seria deles.

Ao se afastarem, o vizinho Juca caiu na risada e contou aos presentes o que, de fato, estava acontecendo.

Relatou que seu vizinho e primo, mais conhecido como Zezé, fazia caminhada, exercício físico por recomendação médica. Em função do trabalho, somente à noite podia fazer isto. Para não pisar no esterco ou evitar quedas levava uma lanterna para iluminar o trajeto. Escolhera a beirada da cerca porque ali não havia buracos.

A história é contada apenas em pequenos grupos porque ficaria extremamente vexatório se a população descobrisse o quanto o ilustre Candoca é supersticioso, ganancioso e nem tão esclarecido. A turma ri às pampas porque ouro não tinha ali.

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