Nova vocação econômica

“Descobrir uma nova vocação econômica para construir novos rumos” parece o pensamento defendido na região fumageira nos últimos anos. Já foram realizados encontros, reuniões, debates com empresários e lideranças políticas. Para complicar mais ainda, o clima do Estado tem deixado muita gente em alerta e o pessimismo está no meio rural e na cidade.

Ouvem-se as mais diferentes opiniões. A saída para o problema, para alguns, está na redução de impostos. Todos defendem benefícios fiscais para aliviar a pressão da crise internacional, da desvalorização do dólar, da queda das commodities, e outros tantos. A guerra fiscal entre estados e municípios gera transferência de empresas.

No entanto, em meio a tantos palpites, surge a idéia de que a “região precisa encontrar nova vocação econômica.” Esta idéia não é nova, porém encontra ressonância entre lideranças hoje.

Aqueles que têm um pouco de memória, imediatamente, fazem referência ao tempo em que lideranças políticas e empresariais abraçaram a cultura do fumo como melhor solução econômica e social da região. Apostaram todas as fichas na plantação, industrialização e exportação do fumo, fabricação e venda de cigarros. Mergulharam juntos e ensaiaram um nado sincronizado.

Durante algumas décadas, os “instrutores das firmas de fumo” desenvolveram um trabalho cerrado em que prevalecia a idéia de que “fumo é o melhor negócio e, em pequena propriedade, só o fumo dá lucro.”

Para que ninguém ficasse em dúvida, a diversificação no cultivo de produtos de subsistência foi desestimulado com mais uma idéia: “plantar 5.000 (cinco mil) pés de fumo a mais e, com o dinheiro, comprar os produtos no mercado.” Não era necessário tanta judiaria com criar porcos e galinhas, fazer pasto para o gado, tirar leite em domingos e feriados, fazer horta e pomar era desperdício de área útil.

Lideranças religiosas (padres e pastores) alertaram para o risco desta prática e foram aconselhados a “cuidar dos problemas da sacristia, fazer bons sermões e estudar a bíblia com os fiéis.” O trabalho de dirigentes e sócios de cooperativas e associações foi ridicularizado.

As escolas agrícolas foram deixadas de lado até sucumbirem. Os professores de Técnicas Agrícolas no Ensino Fundamental tornaram-se dispensáveis porque a disciplina foi retirada do currículo escolar. Os filhos dos agricultores não mais participam do trabalho diário da propriedade porque os pais precisam assinar termo de compromisso em função de legislação que regula o “trabalho infantil.” A ociosidade os empurra para a delinquência ou tráfico de drogas.

Com o passar do tempo, os agricultores constataram que cinco mil pés a mais não são suficientes para comprar tudo no mercado. Hoje plantam 50.000 a mais. Contratam pessoas para quebrar o fumo – “a maioria não sabe colher porque não conhece fumo maduro” – com custo de até R$60,00 reais por dia. Nem sempre classificam as folhas e vendem para os “picaretas.” Estão pobres, endividados e dependentes de empresas e bancos. O grande volume de dinheiro gerado pela fumicultura não chega aos que mais a ela dedicam seu trabalho.

O mundo inteiro chegou à conclusão que os gastos com as doenças causadas pelo tabagismo são maiores que os valores arrecadados com o pagamento de impostos. Os países estão fechando o cerco.

A idéia de “descobrir uma nova vocação econômica para construir novos rumos” logo merece o comentário do vovô de mais de 80 anos – sempre plantou 25.000 na propriedade de 20 hectares – na roda de chimarrão: “plantar fumo virou ocupação de acomodado e relaxado. Bom era no tempo em que se plantava de tudo e sobrava dinheiro para emprestar aos vizinhos ou levar pro banco.”

Além de descobrir uma nova vocação é preciso mudar a mentalidade dos agricultores, investir em educação para o campo, produzir para um mercado exigente, agregar valor com a implantação de agroindústrias, incentivar a criação de escolas técnicas e profissionalizantes em diferentes áreas. Uma tarefa e tanto. Haja união para tudo isso!

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