O belo e o feio como uma experiência estética sempre existiram. Desde a antiguidade, o belo é sinônimo de perfeição; o feio aquilo que causa repulsa.
O que, então, define ou limita a perfeição e a imperfeição (defeito), o completo e o incompleto?
Parece que a feiura não é apenas o contrário da beleza, mas uma força que se opõe à beleza. O demônio é feio, os monstros são feios, o homem mau é feio. A feiura é aquilo que está na forma concreta, aquilo que se pode apontar e descrever como tal. A feiura habita a matéria; a beleza é potencialidade na natureza e existe independentemente da forma que a reveste.
Marcar um objeto como belo é o mesmo que dizer que é perfeito, harmonioso, bom, completo. Marcar um objeto como feio é dizer que é imperfeito, incompleto, grotesco e mau.
Desde o século XIX, o belo e o feio são um marco na relação de poder e na formação de uma hierarquia social estética. O belo é desejado; o feio desprezado. Para chegar mais perto dos padrões de beleza, os artistas procuravam, muitas vezes, dar harmonia ou reparar determinada forma que em seu estado natural não era tão perfeito. Para alcançar o objetivo e retratar as formas perfeitas apelavam para a ilusão de óptica, usavam técnicas para disfarçar as imperfeições impostas pela natureza.
Na contemporaneidade, também se usam técnicas para criar, reconstruir ou remodelar aquilo que a natureza não conseguiu fazer perfeito. Os recursos digitais cobrem as imperfeições do corpo e dos objetos. Fabricam uma imagem limpa, suavizam traços, corrigem falhas. Ainda se cultua e se busca uma beleza para a existência, mesmo que essa beleza anule alguma forma de sensibilidade.