Os números da fumicultura

Os números da fumicultura são grandes. Os dados numéricos estão estampados em jornais, debatidos em reuniões de representates do setor. Os números são comemorados pelas empresas premiadas. Os números são citados com ênfase por políticos locais e defensores da cultura. Os números do tabaco – em período eleitoral – fazem candidatos declararem o apoio à cultura do fumo. Números e percentuais são divulgados para demonstrar a importância econômica da cadeia produtiva.

Levantamento da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) constata que, no Sul do Brasil, quase 50 mil famílias estão envolvidas no plantio do fumo Burley. O trabalho abrange mais de 226 mil pessoas que produzem 95 mil toneladas de tabaco. A renda dos produtores aproxima-se de R$ 550 milhões.
Os números são mais expressivos considerando a atividade fumageira brasileira (Sul e Nordeste): são mais de 220 mil famílias e cerca de um milhão de pessoas que produzem 726 mil toneladas de tabaco. A renda dos produtores ultrapassa os R$ 4,5 bilhões. A arrecadação de tributos federais (IPI, Impostos e Contribuições, exceto receitas previdenciárias) proveniente do setor fumo cresceu de R$ 5,1 bilhões em 2009 para R$ 6,3 bilhões em 2011 e R$ 7,9 bilhões em 2013. Mais de 10 bilhões arrecadados em impostos são dados citados. As divisas somam U$ 3,2 bilhõe.( dados de 2012).
Os números do desempenho econômico impressionam. No entanto, o dinheiro arrecadado com vendas de cigarro não se compara com os gastos do governo com tratamento de doenças vinculadas ao tabagismo. De acordo com o levantamento feito pela organização não governamental Aliança do Controle do Tabagismo (ACT), o Brasil gastou 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011 para tratar de doenças relacionadas ao tabaco, o equivalente a R$ 21 bilhões.

Empresas atraem famílias agricultoras com promessas de altos ganhos, mas omitem consequências ambientais, sociais e para a saúde.

O meio ambiente também é um alvo importante. Até o momento foram mais de 10 milhões de embalagens recolhidas, sendo 1,7 milhões no último ciclo (2013). Por serem agricultores diversificados, os produtores de tabaco tem também a oportunidade de entregar as embalagens de produtos que foram utilizadas em outras culturas. Estes números dão uma ideia da quantidade de agroquímicos lançados na natureza.

Os fertilizantes e adubos químicos também são significativos e importantes para o sucesso da produção. As empresas orientam o uso de até 1.300 quilos por hectare.
Porém, o que esses números não revelam é o alto custo de produção embutido e a baixa capacidade de autoabastecimento das famílias que se dedicam a esse plantio, em função da necessidade de especialização e elevada carga horária de trabalho. Portanto, no final, o lucro líquido acaba não sendo tão expressivo como poderia parecer.

Apreensão, insatisfação, incerteza e frustração permeiam as manifestações dos produtores em época de colheita. A classificação, comercialização, qualidade, venda, preço, renda e lucro estão presentes em todas as rodas de chimarrão, no balcão de bodega e na fila e caixa do mercado.

A plantação e produção em grande escala – muitos agricultores plantam mais de 100 mil pés – exigem grandes gastos com mão de obra ( nem sempre qualificada) e não tem garantido um produto de qualidade. Um diarista cobra R$ 100,00 e a lenha está em R$ 70,00 o metro cúbico.

No momento de negociação do preço, a diferença no cálculo de índices de reajuste não contempla um número comum. O agricultor, muitas vezes, não tem bom controle dos seus gastos, negligencia os dados de receitas e despesas e, no final da safra, os valores são altos.

A cultura do fumo é uma complexa rede montada pela relação produtor e empresa compradora. O que parece uma garantia de compra da produção gera uma dependência total do fumicultor.

Outro aspecto da realidade atual é o alto endividamento gerado pela aquisição de implementos agrícolas acima das necessidades e possibilidades de produção da propriedade. Os financiamentos fáceis estão se tornando um problema na hora do pagamento da prestação. Quando economia e poupança não são práticas comuns, a conta a ser paga no banco é uma encrenca.

De qualquer forma, o fumicultor merece o pagamento de um preço justo pelo produto que exige trabalho insalubre, uso e aplicação de agrotóxicos, grandes gastos com insumos.

O lucro, a grana que sobra para a sobrevivência, o número final da safra dá dó. Muitos manifestam que é preciso continuar porque ainda há muitos anos para zerar a conta.

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