Pesquisas revelaram que negros tinham posse de terras antes da abolição

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Em Vera Cruz, negros tinham terras antes da abolição
Publicado em 12/04/2014
Publicado 04/11/2011 » @arautonarede –
Em Vera Cruz, negros tinham terras antes da abolição
Há quatro anos se tornou público em Vera Cruz um fato histórico: pesquisas revelaram que negros tinham posse de terras antes da abolição, que ocorreu em 1888. Em meio a uma pesquisa sobre a colonização da parte sul do município, a professora de português Celeste Dummer e seus alunos da época, encontraram evidências sobre esse fato. Através de relatos orais dos moradores, a pesquisadora chegou até a família de Genildo da Silva, atual proprietário do lote de terras. “A partir de uma pesquisa se chegou a um fato totalmente novo para a região. E não foi um fato procurado”, explica Celeste. A comprovação, a partir de escrituras e outros documentos, foi notícia no Caderno Mais, do Jornal Arauto, em 31 de agosto de 2007.

O lote colonial nº 9, localizado na atual Linha Tapera, foi comprado por um casal de negros, em 1886 e 1887, portanto antes da abolição. Felippe Ignácio da Palma e Delphina Ignácia da Palma, oito anos depois, compraram o restante da área, totalizando 65,5 hectares. No entanto, segundo leis da época, escravos não poderiam adquirir na da em seu nome, e, mesmo que pudessem, era provável que não tivessem dinheiro para isso. Celeste diz que essa é uma questão a ser pesquisada: como foi possível ser feita essa compra, uma vez que ela existe e é provado por meio dos documentos que estão até hoje com a família. Para ela, o importante seria saber que tipo de relação os compradores tinham com os antigos proprietários do lote. “Outra coisa curiosa é que o Máximo, (um dos filhos de Felippe e Delphina), era alfabetizado e inclusive escrevia poesias em cadernos que a família ainda guarda”, conta a professora.

Com a história comprovada e divulgada na cidade e região, Celeste lembra que as pessoas se surpreenderam. “As pessoas ficaram surpresas por que a história de Vera Cruz sempre foi vista do ponto de vista da colonização alemã”. Mas antes de tornar o fato público, a aposentada lembra que o caminho percorrido não foi fácil. “Eu já conhecia o Genildo, o contato pessoal não foi difícil. Difícil foi convencer a família a liberar os documentos para que fosse feita a cópia e eles se tornassem parte do Arquivo Público da cidade”. Foi em torno de um ano de conversas, até a família, que já é a 5ª geração a ter posse da propriedade, aceitar disponibilizar os documentos. Eles guardaram por décadas escrituras, transferências e comprovantes de pagamento do importo territorial rural. Muitos documentos com mais de cem anos e escritos com bico de pena. “Eles guardaram tudo durante todos esses anos, o que possibilitou a comprovação desse fato histórico na região”.

A pesquisadora relata que a permissão para a cópia dos documentos foi concedida no momento em que ficou bem claro a sua finalidade: documentação histórica. “São pessoas discretas. Tinham medo que fosse feito um sensacionalismo ou um barulho desnecessário. Ela se diverte ao lembrar da divulgação na época: ”ficamos famosos”. Hoje, Celeste percebe que os historiadores da região têm um olhar diferente sobre a cidade. “Outros pesquisadores, professores da Unisc e historiadores, passaram a se interessar mais pela região depois da descoberta dessa história”.

Texto: Vanessa Costa
Imagens: Jornal Arauto, Bárbara Duarte e Vanessa Costa
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