“A causa maior de nossos problemas sempre oscila entre a ignorância e a negligência” é a frase de Joseph Wolfgang Von Goethe que pode ser usada por toda pessoa ou sociedade que pensa iniciar uma nova jornada e acredita que é preciso planejar.
Planejar, por definição, significa projetar, traçar, elaborar um roteiro, programar ações e estabelecer um ponto de chegada. É, também, cercar-se de possibilidades positivas, acreditar que vai dar certo. Ao mesmo tempo ter certeza das intenções e da realidade que nos cerca. Avaliar todas as etapas – começo, meio e fim – e replanejar sempre que necessário for.
O planejamento deve existir em todas as áreas: social, pessoal, familiar, financeira, profissional, pública ou privada. Com a sua ausência poderemos ser surpreendidos e termos de abandonar o nosso projeto de vida. Não é razoável simplesmente apostar, arriscar, contar com a sorte, deixar a vida rolar, ver o que pode acontecer.
Por estas e outras razões estou me manifestando, sem polemizar ou ser dono da verdade. Quero manifestar minha preocupação, dar a minha contribuição, minha cota de responsabilidade social, sugerindo a discussão ampla, reflexão e debate intensos – sem hipocrisia – pela imprensa escrita e falada, órgãos e entidades governamentais, toda a sociedade brasileira, sobre a necessidade do planejamento familiar.
Somos livres. Temos uma liberdade individual, mas precisamos assumir uma responsabilidade social. Não podemos simplesmente fazer o que bem entendemos, pois não temos o direito de prejudicar os outros e muito menos transferir os nossos compromissos e nossas responsabilidades.
Na minha concepção, todo indivíduo que quisesse constituir família, o razoável seria ter condições básicas para tal: condições financeiras e equilíbrio emocional para assegurar um crescimento tranquilo e vida digna a todos os integrantes do grupo familiar. Significa não apenas comida, roupa e moradia, mas, também, capacidade de educar os filhos com amor, carinho, atenção e tempo para acompanhá-los na vida escolar e apoiá-los na escolha de uma profissão.
O que presenciamos atualmente é um crescimento populacional em progressão geométrica e a destinação de recursos e programas de planejamento integral e responsável infinitamente menores. Parece-me que isto precisa ser trabalhado, ser debatido por aqueles que se dizem amigos da natureza, defensores do meio ambiente e da dignidade humana. A população brasileira duplica num período cada vez menor (em 1970 éramos 90 milhões).
Quando se quer tratar do assunto com seriedade, enfrentamos a omissão, a demagogia, o cinismo, a ignorância, o descaso e a arrogância de alguns que se autointitulam responsáveis pela saúde, educação, ensino, emprego, justiça, salário, aposentadoria e muitas outras promessas, mas somente defendem os seus interesses pessoais. Em consequência, continua ou aumenta a prostituição, a favela, a droga, o vandalismo, a violência, a desnutrição. A irresponsabilidade vai aumentando, atingindo a todos direta ou indiretamente, sem distinção de classe social. É só querer enxergar.
Com certeza há teóricos e teorias que explicam toda a realidade e amenizam alguns problemas desta sociedade excludente, egoísta, individualista – resultado do sistema capitalista selvagem – onde predomina a concentração de renda. Também temos um modelo de ensino e de escolas que fazem questão de não ler a realidade da comunidade e da família de seus alunos. Aliado a tudo isto temos a liberação de costumes, hábitos, banalização da violência e do sexo, a desestruturação do núcleo familiar, gerando filhos órfãos de pais vivos. A sangria da riqueza produzida pelo povo e seus resultados na melhoria da vida é uma ofensa á dignidade humana existente.
Nem tudo está perdido. Muitas vozes já soam pelo Brasil afora. Uma vanguarda corajosa já está pensando em alternativas. É necessária a união de esforços para o bem do futuro da sociedade para não perdermos a guerra para nós mesmos.
O planejamento familiar é de suma importância. É preciso coragem, planejamento realista e programas ousados para resgatar e assegurar uma vida digna às pessoas com educação, emprego, assistência médica, perspectiva de futuro para os dependentes.
Seja bem-vindo ao debate e ao trabalho para a construção de alternativas. Podemos errar por não entendermos todas as dificuldades existentes, mas não devemos correr o risco da negligência.
Hilário Wasen
Professor de Geografia da Rede Pública e Orientador Educacional.