Logo após a definição dos vencedores nas eleições municipais deste ano, em seus pronunciamentos, vários vereadores e prefeitos disseram que encaravam a vitória alcançada como uma missão. Tal afirmação, no momento,’ soou bonito, emocionou apoiadores e despertou desconfiança entre os opositores e/ou perdedores. Alguns tentaram causar boa impressão diante do eleitor.
Missão é definida como função ou poder que se confere a alguém para fazer algo (encargo, incumbência). Ofício, ministério, obrigação, compromisso, dever.
Receber uma missão. Aceitar uma missão. Encarar uma missão. Realizar uma missão. Financiar uma missão, Boicotar uma missão. Frustrar uma missão. Atrapalhar uma missão. Planejar uma missão. Delegar uma missão. Fugir de uma missão, Minar uma missão. Impedir uma missão. Cumprir uma missão… Missão secreta, missão divina, missão eclesiástica, missão impossível, missão suicida, missão atrapalhada, missão espacial, missão científica, missão social, missão nobre, missão estratégica, missão exclusiva, missão independente, missão complementar …
No caso dos eleitos, o depoimento parece suspeito quando se analisa o comportamento dos candidatos durante a campanha. Houve disputa ferrenha, denúncia de compra de votos, distribuição de ranchos, vale-alguma-coisa, presentes e promessas de emprego. O dinheiro gasto pelos candidatos, partidos e coligações não retratam a ação de pessoas que querem receber e desempenhar uma missão. Não parece crível que estejam preocupados com o cidadão. Não parece confiável o indivíduo que precisa falar mal de seus opositores ( com filosofia e planos diferentes), pagar para obter a vitória. Não parece ser alguém que aceita uma missão nobre para administrar o município em prol do bem-estar social dos habitantes, progresso e desenvolvimento da economia.
Parece estranho definir como missão construtiva quando os escolhidos são capazes de esvaziar o voluntariado, impedir ou atrapalhar o trabalho de atendimento à pessoas necessitadas, prejudicar o bom andamento de ações comunitárias, matar clubes ou associações, abandonar a valorização da diversidade.
Para executar, cumprir a missão são capazes de perseguir cidadãos com opiniões divergentes, patrulhar os adeptos de outras formas de olhar o serviço público, impedir a realização de atividades cooperativas, menosprezar os bem intencionados, denegrir a imagem de pessoas honestas, fomentar a inércia. Aceitam financiamento de campanha e não dizem aos eleitores como devolverão os valores.
Cá entre nós. Se alguém precisa gastar tanto dinheiro para ser eleito só pode ser bem ruinzinho. Os bons, honestos, verdadeiros, autênticos, competentes não se sujeitam a uma disputa deste nível. Ficam fora e administram a vida através de um trabalho e exercem uma profissão em que não precisam usar de demagogia ou falsidade. Na maioria das vezes, estes cidadãos são profissionais, empreendedores ou empresários que fazem mais ação social e mais contribuem para o progresso do município, estado e país que aqueles que se definem como especiais e privilegiados por “receberem uma missão” para administrar.
Definem-se “incumbidos de missão” e quando começa o dia a dia da administração pública … Bem, aí começam as explicações e justificativas. Os muitos empecilhos legais e as limitações orçamentárias salvam a pele dos eleitos. Missão fracassada.