Seguem abaixo algumas reflexões de Simone de Beauvoir sobre a velhice em diferentes estágios da vida.
Na existência individual, “só existe uma solução para que a velhice não seja uma paródia absurda da nossa vida anterior, e essa consiste em prosseguir naquelas ocupações que dão sentido à existência”.
“Desde o momento em que eu soube que era mortal, a ideia da morte me aterroriza. Mesmo quando o mundo estava em paz e a minha felicidade parecia assegurada, meu ser, então com quinze anos, muitas vezes era tomado de vertigem ao pensamento daquele total não-ser – meu total não-ser, que desabaria sobre mim no dia aprazado e para todo o sempre. Essa aniquilação me enchia de tal horror que eu não podia conceber a possibilidade de encará-la friamente”.
“A morte da gente está dentro de nós, mas não como o caroço no fruto, como o sentido da nossa vida. Dentro de nós, mas estranha a nós, como um inimigo, como uma coisa a temer. Nada mais importa. Meus livros, as crianças as cartas que recebo, as pessoas que me falam sobre eles, tudo o que, de outro modo, me daria prazer, fica totalmente vazio… A morte se tornou presença íntima para mim ontem, mas daí por diante me possuiu. Essa possessão tem um nome: velhice”.
“Um dia, quando tinha quarenta anos, pensei: no fundo daquele espelho a velhice me espreita e espera por mim. É inevitável, e um dia me pega. Pois, me pegou agora”.
O mundo à minha volta mudou: tornou-se menor e mais estreito. Não há mais curiosidade, a loucura já não é ‘sagrada’, as multidões perderam a faculdade de me intoxicarem. A juventude, que um dia me fascinou, não parece mais hoje que um prelúdio da maturidade… é como se o presente tivesse sido deixado à margem da estrada”.
“Me detenho, estupefata à vista do meu rosto. Pois abomino minha aparência de hoje: as sobrancelhas caídas sobre os olhos, a rotundidade das bochechas, e esse ar de tristeza em torno da boca que vem com as rugas…
“É necessário mudar a vida a partir de hoje. Não ficar contando com o futuro, mas agir sem delongas”.
A velhice é um fato cultural e não apenas biológico? A sociedade fabrica a impotência da
velhice?